Você aceitaria um casamento por dinheiro com alguém, considerando apenas a retribuição financeira e a segurança material que essa relação poderia te proporcionar?
O quão feliz você acha que poderia ser com esse relacionamento?
É provável que a maioria de nós ache a ideia moralmente condenável, mas basta um breve passeio pelo passado recente para derrubar nossas convicções.
A ideia do casamento por amor é uma construção relativamente recente na história da Humanidade. Dos últimos 5000 anos que temos um mínimo de registro, arrisco dizer que a ideia dominante de que o casamento deve ser lastreado no amor mal atinge um século. Na Índia, um dos países mais populosos do mundo, o casamento “arranjado” ainda é uma tradição dominante.
O matrimônio por amor seria, então, uma construção cultural contemporânea.
Segundo historiadores, é apenas a partir da metade do século XIX que a ideia da união por amor começa a ganhar alguma proeminência. Até então, casamentos eram negócios, decididos pelos pais à revelia da filha e normalmente baseados em aspectos patrimoniais e políticos, principalmente nas classes mais altas. O clássico Orgulho e Preconceito de Jane Austen, ambientado no berço da aristocracia inglesa, traz como pano de fundo um pouco dessa tradição.
Mas e o trabalho?
Você escolheria uma profissão ou emprego apenas (ou principalmente) por dinheiro?
A verdade é que, conquanto pareça uma ideia repugnante casar por “interesse”, uma enormidade de pessoas aceita trabalhar apenas por dinheiro e não por amor, propósito ou satisfação pessoal.
Talvez porque ainda tenhamos introjetada a ideia do trabalho como punição. Não por acaso, a palavra trabalho tem origem no latim “Tripalium”, um instrumento romano utilizado para torturar escravos, e na França o verbete equivalente “Travailler” tinha o sentido de “castigo, trabalho extenuante”.
Talvez fizesse sentido trabalhar apenas pela sobrevivência na Idade Média, numa época em que a maior meta era não morrer de fome, mas hoje em dia trabalhar apenas por dinheiro é como vender o corpo por bens materiais.
Qual o sentido de fazer algo que não faz nenhum sentido para você?
Todas as pesquisas indicam que Amor e Trabalho são dois importantes preditivos da felicidade de uma pessoa e creio que essa ficha aos poucos começa a cair para muita gente.
Se é incorreto casar com alguém por dinheiro, porque seria correto eu alugar meu corpo, coração e mente, 8 horas por dia, para um trabalho que não me traz nenhum significado? Devo emprestar o melhor de mim durante metade das horas que passo acordado (fora as perdidas no trânsito) para depois subornar a minha infelicidade com traquitanas chinesas que compro em shopping centers e que logo enjoarei?
Quantas botas, bolsas, celulares, carros e relógios serão necessários para preencher tamanho vazio?
É claro que ainda há uma grande massa de trabalhadores, mundo afora, sem qualificação profissional ou ambiente econômico que permita o ‘privilégio’ da escolha, mas o mundo está mudando a passos acelerados e a provocação é válida.
Penso que a escolha do Trabalho hoje ainda esteja no estágio em que estava a escolha do parceiro no século XIX. As pessoas ainda “casam” com um trabalho que dá dinheiro ou segurança (ou o que aparece pela frente), mas diante da frustração de uma vida sem propósito (e da angústia semanal despertada pela musiquinha do Fantástico), cada dia mais se perguntam se não deveriam ter escolhido uma atividade que verdadeiramente amem.
Porque trabalhar sem amor é como se divorciar da própria alma, da essência de si mesmo.
E você? Com que tipo de trabalho pretende se casar?
Assista à palestra “Casando com o Trabalho: É amor ou interesse”, realizada no Change Talks Taubaté.