O Transumanismo é uma filosofia e um movimento intelectual que prega o aperfeiçoamento da espécie humana através da tecnologia, aumentando nossas capacidades físicas, intelectuais e até mesmo emocionais. Numa definição um bocado simplista seria a fusão entre os humanos e a tecnologia. Por isso trans humano, o que vai além do Humano.

Lá pelo final dos anos 70, havia um seriado de TV que fez muito sucesso no Brasil:CYBORG, o homem de seis milhões de dólares, que contava a estória de Steve Austin, um astronauta que após sofrer um acidente grave acabou tendo seu corpo reconstituído como um ciborgue, recebendo implantes biônicos nas duas pernas, em um dos braços e até mesmo nos olhos. Com isso, ele podia correr a quase 100km por hora, tinha uma força descomunal e uma visão com alcance vinte vezes maior do que um ser humano comum, ou seja, uma espécie de super herói.

Essa é mais ou menos a visão do que seria o Transumanismo. Pelo menos a visão utópica. Por que a literatura trouxe antes uma visão distópica do Transumanismo, o famoso Frankenstein, criado pela escritora Mary Shelley em 1818, que narra a criação em laboratório de um humano que acaba virando um monstro.

O Transumanismo é uma filosofia e um movimento intelectual que prega o aperfeiçoamento da espécie humana através da tecnologia, aumentando nossas capacidades físicas, intelectuais e até mesmo emocionais. Numa definição um bocado simplista seria a fusão entre os humanos e a tecnologia. Por isso trans humano, o que vai além do Humano.

Essa ideia da fusão entre humanos e máquinas parece um bocado futurista, mas não é tanto assim. Faz alguns anos eu passei a usar óculos para ler. Os óculos não pertencem ao meu corpo. Os óculos são feitos de plástico, metal, vidro e lentes. Mas são uma tecnologia para corrigir um problema do meu corpo, um déficit de visão. Milhões de pessoas no mundo usam placas e pinos de titânio para corrigir fraturas ortopédicas. Usam próteses. Implantes dentários, que são dentes artificiais, e marca passos para corrigir arritmias cardíacas. 

No campo intelectual, a gente já não conta apenas com a nossa memória interna, agora temos uma memória externa, o celular, o Google, a Wikipédia, uma espécie de exteligência, uma inteligência externa a nós. No passado, estudantes tinham que decorar nomes e conceitos, agora está tudo na nuvem. Nem a data de aniversário das pessoas queridas a gente lembra mais, tem sempre algum aplicativo ou rede social que faz isso pela gente.

E no campo emocional, quem diria, já somos um bocado trans humanos também, temos drogas químicas que nos deixam mais felizes (e mais sonolentos), drogas pra manter as crianças concentradas e drogas para dormir. Drogas para acalmar os furiosos, drogas para tranquilizar os ansiosos. Felicidade tarja preta.

Ou seja, já somos trans humanos a um bocado de tempo, muito mais tempo do que a gente imagina. Aliás, é provável que só tenhamos nos transformados em “Humanos” porque desde os primórdios fomos trans humanos, criamos ferramentas e inventamos formas de transcender os limites do nosso corpo, desde a época das cavernas. Dominamos o fogo para vencer a escuridão, inventamos roupas para vencer o frio, criamos ferramentas de pedra para comer nozes e flechas para abater animais mais rápidos e fortes do que nós.

Ao contrário dos outros animais, não somos exatamente fortes, não somos os mais rápidos, nem temos a melhor visão, nem sabemos voar nem nadar, nossa pele é um bocado frágil e somos muito vulneráveis, levamos um ano para aprender a dar os primeiros passos, enquanto um bebê animal já sai andando nos primeiros minutos de vida. Numa savana selvagem, seríamos vítimas fáceis do ambiente hostil. Nesse sentido, ser trans humano talvez tenha sido um imperativo de sobrevivência. 

Mas quais os limites dessa fusão entre o Humano e a Tecnologia, ou, para onde o futuro aponta?

No campo físico, é provável que o futuro nos reserve uma fusão ainda maior entre humanos e máquinas. Exoesqueletos nos permitirão sermos mais fortes durante mais tempo, talvez inclusive nos protegendo de lesões ou vencendo deficiências físicas. 

Na engenharia genética já há quem defenda a criação artificial de órgãos para futuros transplantes e a edição genética poderá reprogramar nossas células para evitarmos síndromes, patologias ou até mesmo impedindo o aparecimento de doenças. 

No campo intelectual, poderemos fazer download do nosso cérebro, da nossa memória e um dia quem sabe nos tornarmos imortais, com nossa consciência habitando o corpo de um robô. Seria nossa vitória final: a conquista da imortalidade. Ou então poderemos nos clonar, espalhando cópias de nós mesmos pelo mundo. E se pudermos fazer download do cérebro, poderemos também fazer upload de inteligência, inserindo conhecimento artificialmente, com chips implantados diretamente no cérebro.

E novas drogas prometem um futuro sem dor, sem tristeza, sem angústia, sem insônia. Pílulas de felicidade eterna, como previu o livro Admirável mundo novo, do escritor Aldous Huxley, que curiosamente é irmão de Julian Huxley, considerado um dos pais do Transumanismo.

E é justamente no cruzamento dessas fronteiras que o futuro começa a ficar turvo e a linha que divide a utopia da distopia um bocado indefinida. 

Manipular o nosso código genético para evitar síndromes e doenças parece positivo, mas será que é uma boa ideia parametrizar a loteria genética da vida, diminuindo a diversidade de combinações aleatórias que nos trouxe até aqui? E se com o domínio da técnica de edição genética a gente começar a querer escolher a cor dos olhos dos filhos, ou preferir narizes arrebitados ao invés de narizes aduncos?

E será que é uma boa ideia suprimirmos totalmente a experiência da dor e da angústia? Boa parte do que produzimos de melhor em matéria de criação artística veio de artistas em momentos de crise, angústia ou dilemas existenciais. Além disso, é possível que o sofrimento nos ajude a moldar o caráter, como muitas religiões pregam.

 

Veja o vídeo sobre Transumanismo.

(Texto continua após o vídeo.)

 

E em termos de aperfeiçoamento físico, podermos contar com ferramentas externas é de fato muito positivo. Pense na possibilidade redentora de poder restituir a visão a uma pessoa cega. Seria muito difícil condenar uma tecnologia assim, seja debaixo de que argumento for. Mas e se chegarmos num ponto em que uma córnea digital for mais do que uma substituta, mas uma versão muito melhorada dos nossos olhos? Uma córnea biônica, que permita enxergar objetos microscópicos ou a quilômetros de distância. Que permita visão noturna, visão de raio X ou quem sabe um olho com conexão à internet. E se chegarmos num ponto em que as versões eletrônicas de nossos órgãos sejam claramente melhores do que nossas versões biológicas?

Será ético renunciar a nossos órgãos biológicos perfeitamente saudáveis em favor de substitutos biônicos mais potentes?

Do ponto de vista teológico, estaríamos ofendendo os Deuses, brincando de Deus? E se esse futuro parece uma afronta religiosa, já não o seriam procedimentos atuais, como as próteses, as transfusões de sangue e os transplantes de órgãos? Milhões de pessoas vivem hoje no mundo com o coração transplantado de uma pessoa que já morreu.

São questões para as quais ainda não temos respostas, até mesmo porque estamos falando de projeções e hipóteses, e problemas inéditos requerem soluções novas, que ainda não desenvolvemos. 

Eu acredito que o Transumanismo é uma tendência irrefreável. Aliás nem é uma tendência é apenas a continuação de uma característica da nossa espécie, desde nossos primeiros passos nas savanas africanas, centenas de milhares de anos atrás, quando inventamos ferramentas, histórias e mitos para dominar o ambiente ao nosso redor.

Usamos o fogo, roupas de pele, flechas. Hoje usamos óculos, implantes dentários e marca passos. No futuro talvez tenhamos membros biônicos e órgãos impressos em impressoras 3D. Isso não necessariamente é ruim.

Mas talvez a gente precise traçar os limites éticos dessas possibilidades exponenciais que o futuro nos reserva. As possibilidades tecnológicas são infinitas, mas a ética quase sempre impõe limites mais modestos. É preciso ter o bom senso de perceber quando cruzaremos a linha que transforma a evolução em retrocesso e sobretudo até que ponto, na busca por nos tornamos trans humanos ou super humanos, nos tornaremos anti humanos, ou pior, desumanos. 

A história mostra que utopia e distopia são realidades irmãs.

ALEXANDRE CORREA é Palestrante e CEO da MIND PESQUISAS. Pós graduado em Administração de Marketing, possui um Master em Comunicação Empresarial (MBC) e cursou a Escola Avançada de Pesquisa de Mercado na University of Georgia (Atlanta/EUA). Já morou no Sul e no Norte do país. Vive sempre no mundo da lua e atualmente mora mesmo é nas estradas e aeroportos do mundo.

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