Do Oiapoque ao Chuí. De Maceió a Cabróbró. De São Paulo a São Gonçalo, sempre a mesma monocórdia retórica. Mais médicos, mais hospitais, mais postos, mais professores, mais policiais, mais escolas, mais creches, mais merenda, mais obras, mais quadras, mais asfalto, mais praças, mais segurança, mais casas. Mais paraíso, menos inferno.
Intenções irretocáveis, já que de fato precisamos de mais um monte de todas essas coisas, mas faltou combinar tudo isso com o mundo real. O discurso político, no Brasil, sempre foi um bocado raso, e nos últimos tempos ficou também pasteurizado. Um discurso homogêneo destinado ao gosto médio e ao senso comum. É lamentável que a gente ainda não tenha conseguido virar essa página, ainda mais em tempos políticos e econômicos tão azedos como os atuais, onde uma mudança de postura é mais do que nunca imperiosa. Não espanta que o número de votos nulos tão altos nestas eleições. O discurso ficou autista, desconectado da realidade. Meias verdades vomitadas ao vento. E como sabemos, toda meia verdade no fundo é uma mentira inteira.
É como a moça que ouve os doces galanteios do namorado sedutor e cafajeste, mas que no fundo sabe não ser verdade.
Já sabemos. Não virão, num passe de mágica, mais hospitais, mais médicos, mais escolas, mais creches, mais asfalto, mais tudo. Já vimos esse filme muitas e muitas vezes antes. Nem sei também se temos maturidade institucional para discutir as coisas como elas realmente são.
Talvez já tenha passado da hora de aposentar o “mais” e discutir o “como”. Como fazer as cidades espaços melhores, mais saudáveis, mais seguros, mais humanizados. Como estruturar governos que não sejam apenas dragões viciados em dizimar dinheiro coletado da sociedade, mas plataformas para se transformar realidades, ainda que paulatinamente, com o olhar no longo prazo. Como eleger prioridades em cenários onde as demandas tendem ao infinito e os recursos são limitados (e mal geridos). Como criar cidadãos participativos, protagonistas dos novos tempos.
Isso passa também pela discussão do menos: menos desperdício, menos desvios, menos escolhas equivocadas, menos obesidade administrativa, menos curto prazismo, menos miopia.
Passa, mais do que tudo, por uma revolução (de verdade) nos índices de QUALIDADE da Educação, e para isso precisaremos de líderes na mais alta acepção do termo, que aceitem plantar sementes que só darão frutos muito depois dos seus mandatos. O tempo da formação de uma cidade ou um país melhor não pode ser medido pelos 48 meses que separam uma eleição da outra.
Precisamos de comandantes que sejam mais líderes do que políticos, que mirem o legado mais do que o mandato. E isso, convenhamos, anda em falta no mercado.
Precisamos urgentemente de mais do que ainda temos pouco. E menos do mesmo.