Reza antigo ditado de algum país africano que não sei qual é, que toda vez que alguém morre é como se um livro sumisse para sempre de uma biblioteca.

Nossas vidas são como livros, singulares em suas misturas inimitáveis de experiências, sucessos, fracassos, sonhos e frustrações. Somos protagonistas de um filme inédito, do qual somos sempre o Diretor, com final feliz ou não.

Assim como, apesar dos mais de sete bilhões de seres que dividem o planeta azul conosco, a chance de encontrar dois DNAs idênticos é próxima de zero, o mesmo pode ser dito de nossas histórias de vida.

Quando a gente olha pra trás, é quase impossível não divisar uma sucessão de eventos dos mais diversos tipos. Histórias de superação. Medos. Derrotas. Vitórias. Há momentos na vida em que tudo parece dar errado, em que uma sucessão de eventos negativos se sucedem num conjunto angustiante e que nos parece tão injusto quanto injustificável. Mas no longo prazo percebemos que esses eventos ajudaram a moldar a trajetória da nossa vida, muitas vezes para melhor. Somos seres adaptáveis, e a sabedoria reside em conseguir superar os desafios, nos tornando seres melhores e mais preparados para os próximos desafios ou reveses, que sempre existirão na vida de qualquer pessoa.

Ao longo da minha já nem curta (mas ainda não tão longa) vida tive o privilégio de conhecer histórias das mais diversas, que nos mostram a singularidade dos capítulos que compõem o livro da vida de cada um.

Conheci uma senhora cujo pai teve (até onde se descobriu) 23 filhos, 17 deles com uma mesma mulher. Conheci uma pessoa que, convencida de que a vida não valia a pena, se jogou na frente de um trem. Sobreviveu, mas teve as pernas decepadas, e vive até hoje. Conheci uma moça que só conseguiu engravidar depois de adotar duas crianças pobres e com seríssimos problemas de saúde. Histórias fantásticas, que num livro de ficção talvez soasse inverossímil.

Mas também histórias de gente comum e cujo extraordinário reside na beleza dos detalhes mais simples.

No futuro, com a propagação da internet e dos meios automáticos de registros de nossas ações, é possível que muitas dessas coletâneas de vida possam ser armazenadas no éter para todo o sempre. Ou talvez registrem apenas o lado mais banal de nossas existências, selfies, piadas de gosto duvidoso e emulações de felicidade artificial.

Histórias de GENTE, como eu e você, que fazem do mundo esse lugar incrível, e deixam a biblioteca da vida mais interessante do que qualquer outra que qualquer escritor já tenha ousado imaginar.

E você, como anda escrevendo o livro da própria vida?