Eu vou começar contando a história real de um CONTRATO celebrado em 1965 na França…
Um advogado de 47 anos, Dr. André François, conhecia uma velhinha de 90 anos que vivia sozinha numa casa em Arles, a Madame Jeanne. E propôs um acordo: ele pagaria a ela uma quantia mensal (equivalente a menos de um aluguel) todos os meses, para o resto da vida dela, mas quando ela morresse o imóvel seria dele. O usufruto total da casa seria dela. E a casa totalmente dele, após a morte dela.
Cá entre nós, um negócio da China.
A pobre Jeanne, vivendo o crepúsculo de seus 90 anos, e sem descendentes diretos, acabou aceitando. O advogado sabia que logo ganharia uma casa, e pagando muito pouco por isso.
Três longos anos se passaram, até que, em 1968…
A França foi chacoalhada por uma série de protestos no famoso MAIO de 1968. Mas a velhinha, não foi chacoalhada.
Mais um ano se passou, até que, em 1969, finalmente aconteceu…
…o homem pisou na lua pela primeira vez. Neil Armstrong flutuava com os pés no ar enquanto a velhinha pisava firme no chão.
Mas eis que em 1970, o tão esperado dia chegou!
O Brasil se tornou tricampeão mundial de futebol. E a velhinha, mais ligeira que o Pelé!
…
Você podem estar pensando que eu estou enrolando vocês. Longe de mim.
Porque vocês não querem saber da história do mundo, vocês querem saber é da vida da velhinha, ou do contrário da vida.
Então eu vou pular até 1975, quando a velhinha, finalmente…
…comemorou 100 anos de vida !!! ?
Nunca passou pela cabeça do advogado que ela iria virar uma centenária!!! Uma década pagando mensalidade sem nunca colocar os pés na tão sonhada casa.
O advogado já estava trés irrité com os acontecimentos, ou melhor, com o “não acontecimento”. Ele, tão acostumado aos habeas corpus, queria mesmo era um enterra corpus.
Ele então foi dar uma de “Jean sem braço” e visitar a velhinha.
E ele a encontrou na varanda da casa, fumando feito uma chaminé, envolta numa nuvem de fumaça tão grossa, mas tão grossa que parecia um ensaio do Planet Hemp.
– Um século de vida e fumando? Há, essa história não pode durar mais tanto tempo.
Foi então que Dr. André evocou seus mais elevados pensamentos cristãos e fez uma prece:
– Senhor, olhai pelas pessoas senis, que mesmo fazendo hora extra na Terra abusam da dádiva recebida em atitudes imprudentes. Leva ela ao teu encontro para que ela possa usufruir da tranquilizante música das harpas celestiais.
É provável que Deus não tenha ouvido essa prece absurda, porque nada aconteceu nos anos que se seguiram.
Foi só em 1980 que o advogado teve coragem de fazer os cálculos: 15 anos de contrato, cento e oitenta prestações, já tinha gasto mais do que a casa custaria se tivesse comprado.
Bom, eu já estou morto de cansado e como a velhinha não morre, eu vou acelerar pra vocês:
1981, 82, 83, 84, 85, morreu? Quem acha que a velhinha morreu? Não…
1986, 87, 88, 89?
89 enfim, caiu o Muro de Berlim!
E a velhinha, forte como uma muralha!
1990?
1991?
Não!
92?
Não!
93?
Não!
94?
Não!
1995…
Sim! Cest fini!
Aleluia irmãos! finalmente! Ninguém dura para sempre e o fim chega para todos. Babau, já era, demorô, hashtag lacrô.
Aconteceu e justamente no Natal de 1995.
Finalmente morreu, aos 77 anos de idade.
77 anos? ?
Sim, porque quem morreu não foi a velhinha, FOI O ADVOGADO!!!
E lá foi André François ouvir a tranquilizante música das harpas celestiais. Hashtag partiu. E a velhinha? Vivinha da Silva, e dona da casa, que continuaria sendo dela.
Essa foi uma história real e os próximos números que eu vou mostrar, também.
Há 5.000 anos Homo Sapiens egípcios aprenderam a construir pirâmides. Durante o século 20 os Homo Sapiens passaram a desenhar outras pirâmides. As pirâmides populacionais.
As monumentais pirâmides egípcias continuam de pé, mas as pirâmides da demografia estão acabando. Sempre se usou pirâmide para se referir à distribuição da população de acordo com a idade, porque crianças e jovens, que ficam na parte de baixo, sempre foram muito mais numerosos que adultos e idosos, que ficam na parte de cima.
Isso está mudando por conta de dois fatores:
Um: a gente vive cada vez mais. E vai viver ainda mais.
Dois: nasce cada vez menos gente. As famílias estão menores e os casais têm cada vez menos filhos.
E agora os casais se trancam no quarto e passam a noite toda em maratona…
… maratonas de séries da Netflix! Portanto, a tendência é que façam ainda menos bebês.
Vejamos os gráficos do Brasil:
1980, ainda com formato de pirâmide. Muita criança aqui embaixo e poucos idosos aqui em cima. Essa é atual: crianças em menor proporção, muitos adultos e população de idosos aumentando.
Uma janela que está começando a se fechar para o Brasil é o bônus demográfico.
Mas pra aproveitar o bônus, o país precisaria fazer a lição de casa: investir nos jovens, ter um sistema de ensino de qualidade, um ambiente de negócios que fomente a inovação e o empreendedorismo e boa governança dos recursos públicos, atributos que nem sempre a gente encontra por aqui.
Como a gente sabe, Brasil não perde uma oportunidade de perder uma oportunidade.
E esse último gráfico é a projeção para 2050: menos crianças e jovens e maduros em maior proporção.
Vamos ver o que vai acontecer com cada grupo etário entre o ano 2000 e ano 2050. Observem que já cumprimos quase a metade dessa caminhada.
Nesse período de 50 anos, as crianças de zero a nove anos vão reduzir em 32%. Ou seja, pra cada três crianças que tínhamos no ano 2000, teremos apenas 2 em 2050. Um terço das crianças vai desaparecer.
Eu fico preocupado com um futuro sem crianças. Qual será o futuro da Galinha Pintadinha? E os adolescentes de 10 a 19 anos vão se reduzir em 30%.E os adultos, de 20 a 49 anos? 11% a mais.
E agora, a Revolução Prateada:
População de 50 anos ou mais vai crescer…. 286%! E a população de 60 anos ou mais, vai crescer… Quatrocentos e dezesseis por cento! E a população acima dos 90 anos crescerá 3426%. Ou seja, para cada velhinho que tínhamos no ano 2000, teremos trinta e quatro no ano 2050.
No futuro o Homo Sapiens será cada vez mais um Homo Silver. Um Homo Grisalho, Prateado. Porque essas tendências não são apenas brasileiras, são mundiais. O mundo está envelhecendo.
Existe uma disrupção tecnológica barulhenta, que todo mundo vê, mas é bom ficar de olho na disrupção demográfica, que silenciosamente., toma conta do mundo.
As oportunidades dessa nova configuração populacional são imensas, mas muita gente ou não percebeu ou prefere fazer de conta que não existe.
Talvez porque exista uma narrativa cultural de decadência associada ao processo de envelhecimento. Isso não é verdade e a ciência mostra isso. Não existe uma idade única na qual a gente atinja o auge da nossa performance.
Nossa capacidade atlética talvez seja maior por volta dos 26 anos, mas numa das provas mais extenuantes do atletismo, o Deca Iron, os atletas ao redor dos 40 parecem se sair melhor.
A maioria dos ganhadores do Prêmio Nobel fez sua grande descoberta após os 40, a gente consegue entender melhor as emoções alheias por volta dos 50 e existe um estudo que diz que a gente tem um domínio maior do vocabulário perto dos 70.
Mas o maior erro é achar que existe uma “terceira idade” ou que “velho” é tudo igual. São muitos os tons de prata.
Não há como pegar um universo de 50 milhões de pessoas e rotular como se fossem uma coisa só.
Em primeiro lugar, esse segmento incorpora as mesmas discrepâncias que existem no Brasil desigual que a gente vive: gente com muita e com pouca saúde, gente com alta e com baixa escolaridade, gente ativa e gente inativa, gente com uma situação financeira invejável e gente que vive o crepúsculo de seus dias no limiar da indigência. Tem de tudo.
Em segundo lugar, porque à medida que o tempo passa, as pessoas passam a incorporar mais traços próprios de sua biografia de vida, ou seja, vamos nos tornando seres mais complexos e únicos.
Então, o melhor é esquecer os estereótipos: existe sim um monte de bom velhinho, feito papai noel, mas tem velhinhos que não prestam também, porque os cafajestes também envelhecem.
Tem um monte de senhorinha fazendo crochê e bolo de fubá para os netinhos, mas tem muitas vovozinhas em aplicativos de paquera e que já experimentaram quase todas as posições do Kama Sutra, inclusive a tesoura invertida, que é complicadíssima.
Tem gente de 50 que não vê a hora de parar. E tem gente de 70 que não para de empreender.
E um monte aposentado que não quer ficar num aposento. Pessoas ativas, que querem contribuir com o mundo.
Porque não existe velho nem jovem, existem pessoas, seres humanos, cheios de contradições, defeitos e qualidades, únicos em sua infinita individualidade e que não podem ser encapsulados em rótulos ou etiquetas cronológicas.
Aliás…
Todo mundo falar em pensar fora da caixa, mas a gente é encaixotado desde que nasce.
Durante muito tempo a vida foi dividida em 3 fases, como se fossem três caixotinhos, que são mais ou menos assim: dos 0 aos 7, a fase de brincar. Dos 7 aos 22, a fase de estudar, dos 22 até os 55 a fase de trabalhar e depois disso, se preparar para ouvir as harpas celestiais. Só que a gente ganhou um bônus de 20 anos de longevidade e isso muda tudo.
Precisaremos estudar pra sempre, a vida laboral será mais extensa e mais gerações trabalharão juntas. Ao mesmo tempo, poderemos ter aposentadorias temporárias, como muita gente já faz nos anos sabáticos, para repensar a vida, reposicionar a carreira ou reciclar, que é o que a gente coloca no currículo quando fica desempregado.
E teremos uma velhice muito mais ativa.
Você pode brincar na fase de estudar, estudar na fase de aposentar, aposentar temporariamete na fase de trabalhar e empreender na fase de aposentar. Tudo ao mesmo tempo agora.
E temos que resolver a assincronia entre o trabalho e a vida pessoal. O período em que a pessoa mais investe na profissão e se mata de trabalhar é entre os 28 e os 45 anos de idade. E esse é justamente o período que coincide com a maternidade ou paternidade.
No momento em que os filhos estão implorando o convívio com os pais, um mercado devorador de almas está exigindo 247% de você. Não é a toa que tem tanta gente angustiada nessa fase, tanta criança sendo criada pelo celular e tanta gente desistindo da maternidade.
E os consultórios estão cheios de pessoas se sentindo vazias.
Aí, quando você tem lá pelos 50, seus filhos viram aborrescentes e tudo que eles NÃO querem é os pais por perto. Porque nessa hora seus filhos te acham velho, é pra piorar, o RH também te acha velho.
Portanto, meus amigos, o primeiro passo é se despir dos estereótipos, porque velho mesmo é o nosso preconceito. É preciso dar um jeito nessa situação.
Afinal, pra tudo se dá um jeito na vida menos para a… morte… ? Será?
Foi assim até hoje, mas já tem cientista sério dizendo que logo daremos um jeito na morte e viveremos acima dos 1000 anos! Que o futuro do Homo Sapiens é ser imortal.
Eu acho que um número tão próximo da infinitude talvez desvirtue a lógica na qual construímos a civilização e nossas frágeis certezas. Saber que temos data de validade aqui nesse planetinha azul é sempre fonte de angústia, mas ao mesmo tempo um forte impulso para que a gente se motive a realizar, buscar um propósito e deixar um legado.
Além disso…
Já pensou conviver com a sogra por 900 anos?
Nós Homo Sapiens, futuros Homo Silvers, viveremos cada vez mais, mas deixemos a imortalidade, por ora, para a ficção científica.
Porque mais do que uma vida comprida a gente quer mesmo é uma vida cumprida. Onde nossa missão de vida seja cumprida. Uma vida que valha a pena ser vivida.
Falando em vida comprida, o que aconteceu com a Madame Jeanne?
Quando jornalistas de todo o mundo foram entrevistar a velhinha perguntando sobre o contrato que o advogado tinha proposto, ela disse apenas:
“É…. às vezes as pessoas fazem maus negócios…”
Ela morreu em 1997, dois anos depois do advogado. Jeanne Calment é a pessoa que mais viveu em toda a história da Humanidade. E o Dr. André é provavelmente o advogado mais azarado da história da humanidade.
Pelo acordo que assinou, a família do advogado continuou pagando para que seus descendentes pudessem finalmente herdar a casa, o que só ocorreu em agosto de 1997.
Dr. André, racional, apostou na lógica das probabilidades e acabou perdendo. Foi um golpe de azar, um desvio estatístico.
Cest la vie!
Isso foi em 1965, e fazia sentido apostar contra a longevidade.
Mas em pleno século XXI, não faz nenhum sentido apostar contra a demografia. Quem apostar contra a Revolução da Longevidade estará não apenas sendo míope e negando os fatos, mas também perdendo grandes oportunidades e fazendo um péssimo negócio.
Porque o futuro não é cinza, o futuro é prateado.
E os prateados, valem ouro!
*Texto originalmente publicado no Portal da Revolução Prateada.
ALEXANDRE CORREA LIMA
Já morou no sul e no norte do país. Vive sempre no mundo da lua e atualmente mora mesmo é nas estradas do Brasil. É Diretor da MIND PESQUISAS, pós graduado em Marketing, possui um Master em Comunicação Empresarial e cursou a Escola Avançada de Pesquisa de Mercado na University of Georgia em Atlanta nos EUA. Conduziu milhares de pesquisas em todo o Brasil. É autor do livro “Pesquisas de Opinião Pública”. Fundou o portal “Revolução Prateada”, que estuda a Economia da Longevidade. É guitarrista mequetrefe, tenista meia boca, Professor da FGV e escritor, além de pai do Cássio e do Tárik, suas duas melhores obras.
Alexandre leva para as empresas uma mensagem descontraída leve e muito atual a partir de suas experiências e conhecimentos. Inovação, Criatividade, Empreendedorismo, Longevidade, Felicidade e Cenários são apenas alguns dos assuntos que ele pode levar para sua equipe. Entre em contato e solicite um orçamento agora.