A crise econômica está sendo tenebrosa, uma das mais agudas que o país viveu na história recente, e fica ainda pior quando se leva em conta que não faz muito tempo estávamos inebriados num clima de euforia ensandecida. Aliás, é uma grande crise justamente porque já estávamos desacostumados das grandes crises.
Mas podem anotar: vai passar.
Todas as crises passam, assim como todas as euforias um dia cessam. Com essa não será diferente.
Não sou tão velho assim – ainda que longe de ser novo – mas já cataloguei um sem fim de crises bisonhas: a hiperinflação dos anos 90 (um pãozinho de sal hoje custaria a bagatela de 1 quatrilhão e 500 trilhões de cruzeiros, não houvesse tantas trocas de moedas e a redentora estabilização da economia), tivemos a crise do Petróleo, a fuga de engenheiros para serem garçons em Miami porque aqui não havia empregos, a crise asiática e o confisco do dinheiro da poupança pelo Collor. Não presenciei, mas também tivemos: uma ditadura militar, um Estado escravocrata e por séculos fomos uma colônia extrativista subjugada a Portugal.
Teve de tudo e de todas elas saímos vivos, feridos ou não. Mais do que vivos, de todas saímos um pouco mais fortes. A lista de problemas do Brasil não cabe neste artigo, mas já foi pior. O clima de enxofre e putrefação às vezes embrulha o estômago, mas é que estamos limpando o lixo que estava debaixo do tapete e tirando cadáveres insepultos de dentro dos armários.
O odor vai dissipar, a neblina também. A crise vai passar.
Acredito no Brasil não por otimismo cego mas por força das evidências. É um país cheio de carências mas cheio de oportunidades também. Algumas coisas deram certo mesmo quando fizemos quase tudo errado. É claro que vai dar certo na hora que fizermos (pelo menos) quase tudo certo. Há muito por fazer, muito por consertar, muito o que plantar, muito o que colher.
Crises quase sempre são fruto de ciclos de prosperidade desperdiçados. Veja o passado recente do Brasil, o que fizemos com toda a euforia, confiança e recursos que tínhamos até pouco tempo atrás? Festa, firula, farra e faraonismo. Agora chegou a conta.
Ao mesmo tempo, crises, quando bem aproveitadas, podem se transformar em longos ciclos de prosperidade.
A crise vai passar, acho que nem tão rápido assim, mas vai passar, e espero que ao final dela saiamos um país renovado, mais maduro, com instituições mais sólidas e mais preparado para os desafios que a agenda do futuro impõe ao mundo e ao Brasil.