Não saco nada de Física
Literatura ou Gramática
Só gosto de Educação Sexual
E eu odeio Química, Química, Química!
Não cheguei ao ponto de odiar, como vociferaram os rocks de Paralamas e Legião, mas admito que tive uma relação um bocado turbulenta com a Química durante o ensino médio.
Não rolou química, digamos assim.
Passei pela Química (e ela por mim) sem deixar marcas, apenas o suficiente para que eu conseguisse chegar no próximo estágio da corrida de obstáculos que era a luta para passar no vestibular.
Não posso nem dizer que não gostava de Química, porque sequer cheguei ao ponto de entender que raios era aquilo. A única forma de descrever essa sensação seria emprestando um conceito que aprendi das aulas de língua portuguesa: hiato. Era como se eu e a Química estivéssemos juntos, mas em sílabas vizinhas, separados.
Isso foi a um bocado de tempo atrás.
Dia desses ouvi uma adolescente reclamar indignada que não entendia por que as escolas ainda insistiam em ensinar coisas “nada a ver” como Física e Química, matérias “inúteis” e que ela jamais utilizaria em toda a vida.
Vindo de uma geração em que qualquer coisa que não seja prazer é vista como “nada a ver” o desabafo não chegou a ser uma surpresa completa. Mas compreendi o que ela quis dizer, ainda que sem concordar plenamente. Mesmo durante meus anos de relacionamento mal resolvido com a matéria nunca desejei a extinção da disciplina. Queria pelo menos entender minimamente aquele mosaico de letrinhas, que para mim eram tão claros quanto um papiro do Império Egípcio.
Uma pena. Mesmo eu não tendo virado Engenheiro Químico (graças a Deus), hoje eu sei que a Química está presente na vida de uma maneira impossível de não perceber. Tem química no riso incontido e no choro desabalado. Tem química no strogonoff do almoço e na cerveja da festa. Tem química na euforia e na depressão. Não deveria, mas tem química no tomate e no melão. Tem química na paixão, no orgasmo e na nossa sina ancestral por passar os genes adiante. Tem química nas pobres sinapses que eu monto enquanto tento escrever este texto.
Demorei um bocado pra perceber que o entendimento de um monte de coisa seria um bocado mais interessante se eu entendesse de Química.
Eu gosto e sempre gostei de Matemática, mas até hoje são sei para que raios serve a formula de bhaskara. Xis é igual a menos bê mais ou menos a raiz quadrada de bê dois menos quatro a cê sobre dois a.
E um monte de amigo teve trauma de matemática, não porque não possuíssem capacidade cognitiva para entender aquelas fórmulas, mas principalmente porque não viam qualquer sentido naquilo. E não faz sentido se dedicar a algo que não faz sentido para você. E se a minha geração, mais “cordeirinho”, aceitava com alguma complacência o “é porque é e ponto final” é cada vez menos provável que as próximas gerações mastiguem goela abaixo esse tipo de coisa.
Diz a mitologia grega que Sísifo, após chantagear Deuses e enganar por duas vezes Tânatos, o Deus da Morte, foi condenado ao pior castigo que um homem poderia receber: passar o resto de seus dias empurrando uma pedra gigantesca até o alto de uma montanha e lá chegando soltá-la montanha abaixo, para então recomeçar tudo de novo, numa repetição inútil e infinita.
O castigo não era a repetição. Músicos e atletas repetem à exaustão exercícios extenuantes e são muito felizes mesmo assim. O castigo é a inutilidade da tarefa ou a falta de percepção de valia. Foi o que provocou a revolta da jovem estudante: “de que me serve isso, afinal”?
Num mundo governado por dinheiro e indicadores financeiros, é difícil alguém não entender a importância da matemática. O que talvez nem todos percebam é a poesia dos números. Há beleza nas justaposição perfeita de uma equação, tanto quanto há beleza na melodia de uma música. A música é a irmã sonhadora da matemática, uma forma de expressão sonora da matemática, com suas escalas simetricamente desenhadas e seus padrões rítmicos que se repetem.
Há poesia na matemática tanto quanto há matemática nas formas fixas de um soneto.
Assim como há História não apenas no estudo do passado, mas no reconhecimento do Presente e no vislumbre do Futuro.
Há Geografia nas montanhas do Himalaia tanto quanto há no Everest de indicadores que a TV nos cospe todo dia.
Há Física no levantar da cama e no cair da noite.
Porque há quase tudo dentro de quase tudo e desse modo nada é inútil nem “nada a ver”. Música é Matemática, que é Poesia, que é Vida como a Química que explica tanto a História do Big Bang quanto o enredo dos grandes amores.
O poder está nas mãos de quem ensina, para revelar a beleza oculta numa equação química, numa fórmula matemática ou na precisão anárquica de um poema de Rimbaud.
Quem ensina não pode ser um mero reprodutor de fórmulas, mas que alguém que é capaz de dotar as mais impenetráveis equações nas mais apaixonantes lições, e as mais aborrecidas tarefas nas mais inspiradoras missões. Essas pessoas merecem o título de “Mestres”, assim como as grandes almas merecem o título de Líderes. Os verdadeiros líderes são mais do que pessoas dotadas de Poder para exigir que tarefas sejam cumpridas. São pessoas iluminadas que inspiram a compartilhar um sonho e realizar uma missão. E pessoas dessa envergadura são capazes de mover montanhas ou de nos fazer amar um cateto da Hipotenusa.
Demorou mais do que o justo, mas hoje eu gosto de Química.
PALESTRANTE ALEXANDRE CORREA LIMA
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