Prever o futuro é sempre tarefa complexa, ainda mais em um mundo de transformações tecnológicas e sociais aceleradas. Há menos de 20 anos seria difícil imaginar drones, redes sociais onipresentes ou que teríamos um super computador no bolso da calça. Não havia ainda Orkut, nem selfie, nem “nuvem”.
O futuro não é mais como era antigamente, disse Renato Russo em uma de suas célebres canções. Se hoje temos coisas inimagináveis, também é possível que não tenhamos (ainda) coisas que imaginávamos no passado, como carros voadores ou robôs que fazem serviços domésticos, como no desenho animado Jetsons, sucesso nos anos 70 e 80, que projetava como seria a vida em 2062.
Carros voadores não existem ainda no nosso dia a dia, mas já estão em testes sob a forma de drones tripulados em diversos países. Robôs já ocupam postos em indústrias e no atendimento a clientes. E muito mais está vindo por aí.
Mas num mundo com cada vez mais tecnologia e automação, qual será o papel que caberá aos trabalhadores de carne e osso? Quem terá emprego e dinheiro para consumir tanta tecnologia?
Não há como prever com exatidão a configuração desse novo mercado de trabalho, porque existem muitas tendências simultâneas, intensas e disruptivas, que constroem o novo através da destruição do velho.
Nossa tendência é projetar o futuro utilizando a régua do passado, o que é tão perigoso quanto querer dirigir olhando apenas o espelho retrovisor. As mudanças assustam, porque perdemos as certezas que ajudam a nos orientar pelos labirintos do mundo, mas as mudanças são inevitáveis. E se não é possível fugir, melhor abraçá-las.
A sensação que temos é que todos os empregos serão dizimados, mas o mais provável é que tenhamos uma migração de matriz econômica, como já ocorreu no passado, quando os países passaram de uma economia agrária à industrial, e mais recentemente quando passaram para uma economia baseada no setor de serviços.
Com a tecnologia, um monte de coisa se digitalizou, perdeu valor monetário. Pouca gente compra CD’s de música, mas ao mesmo tempo um monte de outras coisas ganhou densidade, virou gourmet. Eu pagava R$1,50 num cafezinho e agora pessoas fazem fila para comprar um Frapuccino de R$20 em franquias americanas de café. Os jovens não compram mais um CD de R$20, mas estão lotando festivais de música com ingressos a R$400. A Economia não acaba, ela se transfigura.
Voltei recentemente de uma imersão em alguns países europeus, onde estudei algumas das tendências e teorias que estão tomando corpo naquele continente. Em Londres, por exemplo, analisei o relatório de um congresso, com as projeções sobre o futuro dos empregos.
Dentre algumas propostas um bocado inviáveis, como a que propõe frear a adoção de novas tecnologias, algumas são bastante interessantes ou no mínimo merecem um olhar mais aprofundado, como as propostas de utilizar a tecnologia para aumentar a produtividade do trabalhador inglês, distribuir melhor os ganhos oriundos da produtividade e implantar a semana de trabalho de apenas quatro dias, já que no futuro conseguiremos produzir mais em menos horas.
Talvez isso soe um pouco utópico hoje, mas essa é uma promessa antiga, de que a tecnologia um dia nos libertaria do enfado de tarefas rotineiras e repetitivas.
A visão dos ingleses é de um otimismo moderado, sabem dos desafios que as novas tecnologias impõem, mas acham que os trabalhadores que forem capazes de se manter capacitados encontrarão novos papeis para exercer. Uma das propostas do Congresso vai no sentido de capacitar aqueles trabalhadores cujas profissões estejam mais vulneráveis em face de novas tecnologias.
Quando a gente olha em retrospectiva a saga humana na Terra, entre indas e vindas e alguns revezes pontuais, melhoramos consideravelmente nosso padrão de vida. Eu alimento a crença de que continuaremos essa trajetória ascendente. Mas ao mesmo tempo eu acho que os novos tempos podem sim ser cruéis com aqueles profissionais que se acomodarem e não tiverem a capacidade de se reinventar ou a disposição de continuar aprendendo eternamente. Porque num mundo em que tudo muda, toda hora, você só se mantém relevante se for um eterno aprendiz.
Às vésperas de um novo ano e sobretudo de um novo governo, espero que o Brasil faça sua lição de casa, investindo (de verdade) em Educação de qualidade, para que nossos profissionais e sobretudo nossos jovens tenham a qualificação necessária para competir nesse admirável mundo novo que nos espera, cheio de desafios, mas cheios de oportunidades também.
Este artigo de Alexandre Correa lima foi publicado na revista EXAME.