Parece uma ironia (de mau gosto) que o dado tenha sido divulgado justamente na FLIP, o mais importante evento da Literatura brasileira: quase metade (44%) da população do Brasil não costuma ler livros, e é provável que o cenário seja ainda pior do que os números sugerem, já que mesmo os que dizem ter lido algum livro (inteiro ou trecho) se contradizem na hora de citar o último livro que leram. Se excluirmos do cálculo as leituras exclusivamente religiosas (mais concentrada entre os mais maduros e menos escolarizados), esses índices caem ainda mais.

Os resultados são fruto de uma pesquisa realizada em âmbito nacional pelo IBOPE por encomenda do Instituto Pró Livro.

O levantamento mostra aquilo que sempre soubemos: o brasileiro lê pouco. Não vou nem traçar comparativos com alguns vizinhos (como Argentina, Chile ou Uruguai) ou com nações europeias como França ou Inglaterra, que o 7×1 que sofremos da Alemanha no futebol vai parecer piada.

Há uma série de fatores para explicar a baixa popularidade da leitura, desde a má qualidade da educação formal no Brasil (que evoluiu apenas em termos quantitativos) até o preço do livro (em parte explicado pelas baixas tiragens), proibitivo para uma boa parte da população.

Mas isso conta apenas um pedaço da história.

As pessoas dizem que não leem sobretudo por dois motivos: não possuem tempo (mas a mesma pesquisa mostra um aumento expressivo do tempo despendido [desperdiçado?] em redes sociais) ou não possuem prazer na leitura, e aqui aparece de maneira flagrante a ausência das figuras famiuliares na idade mais tenra para influenciar os filhos. Está provado que as crianças que veem os pais lendo ou recebem o incentivo devido, se tornam adultos com gosto pela leitura. E pessoas com gosto pela leitura tendem a ser cidadãos e profissionais melhor desenvolvidos.

Pior ainda, até mesmo os professores, outra fonte de influência para os alunos, não leem tanto quanto deveriam pelo ofício que exercem.

Está claro que vivemos novos tempos, onde recebemos uma carga fragmentada de informação o dia todo, e isso acaba por impactar o consumo de informação mais profunda e densa, como aquela contida nos livros. Mas não dá para fechar os olhos para a triste realidade de que o Brasil é um país que lê pouco.

Um país que não lê não consegue interpretar a si mesmo.

Talvez por lermos pouco não tenhamos conseguido ainda virar as páginas das muitas misérias que continuamos escrevendo nos livros da nossa história desde 1500. E com um enredo assim, o final feliz parece uma obra demasiadamente ficcional para acreditarmos possível.